30 março 2006

Pelos Velhos Tempos. (Que salvam, às vezes, os tempos novos)

Tora Tora
“A gritaria rindo anuncia a hora
Eu tô cansado eu vou-me embora
Vou de volta pro meu lar
Volto pra casa pra mulher e pros meus filhos
Mas não largo do gatilho
Essa herança é de lascar
Sendo animal preferi ser o predador
Não sei fingir, não sou ator
Só vô querer o que quiser
O sanfoneiro toca a música da morte
Com minha faca eu abro um corte
E tu sangra quanto sangue tiver
(...)
Como troféu de caçador na sua parede
Trinta e sete almas na rede
Eu levo prá todo lugar
É claro que morrer de tiro niguém gosta
Então eles grudam nas minhas costas
E ficam só me dando azar
Não tem problema minha cabeça tá tranqüila
Querem briga façam fila
Estou aqui e não arredo pé
Cabra safado em dois tempo te encho de bala
Emudeço a tua fala
E tu sangra quanto sangue tiver”

Bestinha
“Pra ser ditado eu não vou pra escola
Sem professor eu aprendi
Que quem faz falta é quem não vai na bola
Quem me segura se eu cair”


Até hoje não existe nada melhor que as músicas antigas dos Raimundos para descarregar o stress. E provavelmente para expulsar demônios, tirar mau-olhado, expurgar maldição, salgar bacalhau, libertar poloneses, coisas assim.

29 março 2006

Nada mais do que nada menos

Em Guiné-Bissau se fala português. E ó: lá não existe uma palavra para “homossexual”. Esse conceito é obscuro e indefinível.
Ou não existe ninguém desse gênero por lá ou eles simplesmente ignoram o fato e vivem todos do jeito que os padres gostam.
Um amigo de um amigo, que é de Guiné-Bissau, disse sobre o homossexualismo que “isso é coisa de brasileiro”.
Engraçado como a abrangência da língua pode excluir alguns conceitos do cotidiano. E, de certa forma, moldar vieses do comportamento humano.
E os machões mais inseguros já têm para onde ir.

Certos Excertos

Saímos ou entramos? Te aperto as mãos
e ficamos adormecidos com saltos e sobressaltos.

Saímos? Uma praia com uma rena
ouve na altura vozeirão de uma nuvem.
Entramos? O bosque se retira, a decoração
se aproxima de uma festa campestre filandesa.
Entramos? Desgasto teus braços.
Saímos? Saltam os olhos mortais de um mineral.

---

Não é seu banho o do corpo afetado que vacila
Entre a tepidez da água e da fidelidade miserável do espelho.
Glória! A água converteu-se em rumor bem-aventurado.
Não é que João tenha vencido o azeite fervendo:
Esse pensamento não o assedia, não o desonra.
Amigou-se com a água, transfundiu-se na amizade onicompreensiva.


- Lezama Lima (traduzido)

CH2-CH2

O que a Playboy faz hoje não é simples reprodução de imagens, é muito mais mentiroso que isso. Não só ela, obviamente, mas quase todas essas revistas aí de gente pelada. Dá pra perceber muito isso vendo os famosos "antes e depois", observando a fotografia original sem tratamento. E depois tudo fica meio óbvio. Pessoal, em que mundo você vivem? As pessoas têm manchas, cicatrizes, espinhas, pêlos, ossos saltados, uma porção de coisas. Só que esse tipo de realidade não interessa, aparentemente não atrai. A celebridade da revista tem que ser de polietileno, senão não é a celebridade da revista. Aprendemos a gostar de pernas e peitos e bocas de plástico. São texturas de pele absolutamente irreais, construídas pixel a pixel pelo Deus Photoshop. O que as revistas fazem é vender sonhos, é aproximar o comum do ideal, nada mais justo. São as esculturas helênicas da modernidade. O estranho disso tudo é que esse ideal não é pele, é plástico. Que tipo de proximidade tem essa contemplação? As pessoas se imaginam abraçando aquelas texturas lisinhas, brilhantes, de cor falsa? As pessoas se apaixonarão cada vez mais por um catálogo de Barbies?
Acho interessante.

24 março 2006

Certos Excertos

"A bença Manoel Chudu

O meu cordel estradeiro
Vem lhe pedir permissão
Pra se tornar verdadeiro

(...)

É planta que cobre o chão
Na primeira trovoada
A noite que desce fria
Depois da tarde molhada

É seca desesperada
Rasgando o bucho do chão

É inverno e é verão

(...)


Vocês que estão no palácio
Venham ouvir meu pobre pinho
Não tem o cheiro do vinho
Das uvas frescas do Lácio
Mas tem a cor de Inácio
Da serra da Catingueira
Um cantador de primeira
Que nunca foi numa escola

Pois meu verso é feito a foice
Do cassaco cortar cana
Sendo de cima pra baixo
Tanto corta como espana
Sendo de baixo pra cima
Voa do cabo e se dana"



- Cordel do Fogo Encantado ("O Cordel Estradeiro")



21 março 2006

Certos Excertos

“George Orwell estava errado. O Big Brother não está vigiando coisa alguma. Ele está cantando e dançando. Está tirando coelhos da cartola. Ele se dedica a prender nossa atenção durante cada minuto que passamos acordados. Quer garantir que estejamos sempre distraídos. Quer garantir que estejamos sempre absortos.
(...)
Aí está o Big Brother, cantando e dançando, alimentando-nos à força para que nossas mentes nunca sintam fome o suficiente para pensar.”

Chuck Palahniuk – Lullaby (“Cantiga de Ninar”)



(se alguém tiver Soma aí eu tô comprando.)

08 março 2006

02 março 2006

Certos Excertos

"Arquitraves compósitas coríntio-toscanas do cornijamento... Certas pessoas só deveriam poder entrar na biblioteca apresenteando uma receita médica. (...) livros de arquitetura são como pornografia para Denny. Estamos nos Estados Unidos. Você começa com punhetas, depois passa para orgias. Você fuma um baseado, depois passa pra heroína. Toda a nossa cultura se baseia no maior, melhor, mais forte, mais rápido. A palavra-chave é progresso.
Nos Estados Unidos, quem não renova e aperfeiçoa sempre o próprio vício é um fracassado."


"O problema (...) é igual ao de qualquer outro vício. Você está sempre se recuperando. Está sempre reincidindo. Representando. Enquanto não acha algo pelo que lutar, você se contenta em lutar contra algo."


- Chuck Palahniuk - "Choke"